No dia 31 de outubro é comemorado o aniversário da
Reforma Protestante. Nesse dia, no ano de 1517, o monge alemão e professor
universitário Martinho Lutero fixou suas 95 proposições (teses) nas portas da
Catedral da cidade de Winttemberg. Aquele ato, bem como o conteúdo daquele
documento, originou o movimento conhecido como a Reforma Religiosa do Século
16. Esse movimento é considerado como o mais importante ato de Deus em prol da
revitalização de sua Igreja desde o período apostólico.
A participação de Lutero foi decisiva para o início
e primeiros avanços da Reforma Protestante, mas o movimento continuou a
desenvolver-se mesmo depois de sua morte. Na galeria dos reformadores
encontramos homens como João Calvino, Ulrico Zuínglio, Martin Buccer e tantos
outros que abraçaram a causa da Reforma. Todavia, para se compreender
corretamente a importância daquele movimento e sua relevância para hoje é
necessário considerar a sua necessidade e verdadeira natureza.
A necessidade da Reforma
A Reforma Protestante se fez especialmente
necessária devido à corrupção do cristianismo ao longo dos séculos. Aquele era
um contexto distanciado da Palavra de Deus. A esse respeito o teólogo Alister
McGrath descreve o cristianismo ensinado e praticado naquele período como uma
forma de “cristopaganismo”. Segundo ele, a religião cristã daquela época era
caracterizada por cinco aspectos:
1. Uma verdadeira confusão
doutrinária. As
pessoas não estavam certas do que criam e nem porque criam. Aquela foi uma
época de grandes incertezas, misticismo e intensa confusão;
2. Uma liderança ignorante. O clero era alvo de chacotas
devido à sua notável ignorância. Não havia verdadeiro ensino das Escrituras e
as superstições dominavam;
3. Superficialidade religiosa. O compromisso e a apropriação
pessoal do evangelho eram raridades. Aqueles que se mostravam zelosos nessa
área eram julgados hereges, inclusive alguns sendo queimados na fogueira (ex.
João Huss);
4. Acentuada separação entre o clero
e o laicato. Os
leigos eram desprezados, não sendo vistos como membros da Igreja, além de serem
explorados e maltratados pela Igreja. Somente o clero e os ricos eram
valorizados;
5. A superstição religiosa. A ignorância religiosa
resultava em ansiedade e, consequentemente, as pessoas se “agarravam” a
qualquer apelo supersticioso. Como resultado, a igreja daquela época realmente
se parecia mais com uma instituição pagã do que com o cristianismo bíblico.
Nesse contexto, a venda das indulgências (a venda
da promessa de perdão) foi apenas um meio pelo qual o erro doutrinário da
igreja se tornou claro para Martinho Lutero. Em sua tese de número 27, ele
denunciou aquela prática ao afirmar: “Pregam futilidades humanas quantos alegam
que no momento em que a moeda soa ao cair na caixa a alma se vai do
purgatório”.
A natureza da Reforma
O cerne da Reforma Protestante era de natureza
teológica, pois a grande questão debatida naquela época dizia respeito ao
perdão dos pecados. A pergunta que clamava por resposta era: como os pecados
são perdoados e como alguém pode ser salvo? O catolicismo romano defendia que
cada pessoa deve salvar a si mesma. Por outro lado, os reformadores defendiam
que a salvação é pela fé somente (Rm 1.17). Eles enfatizaram a verdade bíblica
que “o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei” (Rm
3.28).
Com o passar do tempo os reformadores resumiram o
seu ensino em cinco tópicos, cada um deles ressaltando o Evangelho da graça de
Deus:
1. A salvação é somente pela graça (Sola
gratia). Nada
que o homem realiza pode resultar em méritos para a sua salvação. Todas as
pessoas estão culpadas e condenadas por seus próprios atos, pois “todos nós
somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos
nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades, como um vento, nos
arrebatam” (Is 64.6);
2. O sacrifício de Jesus Cristo foi
perfeito e suficiente para a redenção do pecador (Solus Christus). A ressurreição de Cristo foi
uma prova de que o Pai aceitou o seu sacrifício por quem ele morreu, pois a
Bíblia afirma: “Cristo não entrou em santuário feito por mãos, figura do
verdadeiro, porém no mesmo céu, para comparecer, agora, por nós, diante de
Deus” (Hb 9.24). Por causa de sua morte, nenhuma dívida permanece para ser paga
pelos seus discípulos;
3. Somente pela fé o cristão pode
desfrutar das bênçãos da salvação concedidas por Cristo (Sola fide). O justo vive pela fé e continua
crendo nas promessas feitas por Deus e registradas em sua Palavra. A condição
para a salvação continua sendo: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e a tua
casa” (Atos 16.31);
4. O propósito da existência humana
é viver em comunhão com Deus e para a sua glória (Soli deo gloria). Sem a comunhão com Deus a
existência humana se torna desesperadora, vazia e desprovida de significado.
Deus criou o ser humano à sua imagem e para a sua glória, e o coração humano só
encontra descanso quando descansado em Deus.
5. Somente a Bíblia possui
autoridade final sobre os cristãos (Sola Scriptura). O fundamento da Reforma
Protestante foi o seu compromisso com a autoridade da Palavra de Deus. Enquanto
os religiosos da época defendiam a autoridade da hierarquia da igreja, do papa
e dos sacerdotes, os reformadores defendeream a centralidade das Escrituras na
vida cristã.
Esses tópicos doutrinários enfatizados pelos
reformadores se tornaram conhecidos como “os solas” da Reforma. Eles
representam a síntese daquilo que os reformadores reivindicavam.
O significado da Reforma para os dias atuais
As verdades defendidas pelos reformadores possuem
aplicação direta para a igreja em todas as eras. O evangelho não muda de uma
época para outra; ele nunca fica desatualizado e nunca haverá uma mensagem que
destituirá o evangelho de sua importância. A Reforma foi mais do que um mero
evento histórico, ela possui uma mensagem relevante para os dias atuais.
Em primeiro lugar, a Reforma ensina que a
vitalidade da fé cristã está intimamente conectada com a redescoberta
da riqueza do evangelho. Os reformadores foram tomados pela alegria da
mensagem do evangelho e sua aplicação à vida diária, pois o evangelho deve
afetar toda a vida do cristão e não apenas a devoção religiosa.
Também, a Reforma testifica sobre importância
do estudo diário da Palavra de Deus. A Bíblia para os reformadores deixou
de ser apenas um “livro de referência religiosa” e passou a ser interpretada
pelo que ela realmente é: a Palavra escrita de Deus a dirigir e orientar o
cristão nesse mundo. A negligência do estudo diário da Palavra resulta em
confusão e retardamento no processo de santificação.
Além do mais, ao estudar sobre a Reforma o cristão
contemporâneo pode aprender sobre a necessidade do trabalho cristão
para o seu desenvolvimento espiritual. Isso é especialmente observado na
maneira como os reformadores empregaram a “força leiga” na pregação do
evangelho. Eles não confinaram essa atividade apenas ao clero, mas cada cristão
se tornou um missionário das boas novas do reino de Deus. A Reforma é um
testemunho claro da importância da participação de cada cristão em prol do
avanço do Reino.
Por último, a Reforma ensinou que Deus está
sempre interessado e comprometido com a igreja. Ele sempre intervém em
benefício da revitalização do seu povo e nunca abandona aqueles que nele
confiam. Essas lições continuam sendo preciosas para nossas vidas nos dias
atuais.
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